Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Todo poeta que preze a arte
Acaba, em dado momento,
Abandonando a arte:
Vai pra África selvagem viver
De crimes ou suicida-se
Numa tarde silenciosa
De abril ou morre de desgosto
E cai numa cova apertada.

É um filho do exagero!
Isto ninguém pode compreender!
É um filho do exagero e,
Por menos que possa parecer,
O poeta é um filho do silêncio -
Escreveu em papéis duzentas e poucas
Frases, mas no fundo da mente é que jaz
O infinito verbo invisível...

Arranca a própria orelha! Bebe uma dose
Cavalar de estricnina! Dispara,
A todo instante, tiros
Contra o próprio
Peito...

Todo poeta - existem muitos! - que preze
A arte, em dado momento, abandona
A arte, imitando assim um amante
Que, apesar do apego e do sofrimento,
Foge, porque todo amor que preste
Está fadado ao desuso...
A morte virá. O futuro é a morte.
Isto é uma sentença! Isto
É um aborto sofrível,
Porém espontâneo.
Quando a voz cala-se,
E ela há de calar-se,
Não resta nada contudo silêncio.

Quando a voz
Cala-se?

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