Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

I

Finjo que durmo
Até dormir de fato:
Adormecer é um vinho
Muito suave, devemos
Tê-lo aos poucos, pensar,
Lentamente, nas comodidades
Benéficas de simplesmente estar vivo,
Sentir os lençóis frescos e a maciez
Incorruptível dos travesseiros
Que são nossos. Finjo que durmo
Até dormir e, neste processo,
Degusto a concepção em sonhos
De poesias inexplicáveis e belas
Que nunca encontrarão papel

- Minha mente me leva
Por caminhos constantemente
Inconstantes: se eu não mentir para mim
Mesmo, se não fingir que durmo até dormir,
Não durmo... Não há, neste mundo onírico,
Nada pior do que não dormir.


II

Quem deseja algo de fato, vida dura, vida boa,
Precisa saber fingir - é um decreto:
Somos, todos nós, atores. Fingir
Até tornar-se não é um pecado, é uma arte.
Há muitos anos finjo que sou poeta,
Finjo que penso, finjo que não faço
Parte da grande massa massacrante
- E, veja só que maçada!, parece
Que funcionou:

Sou poeta, penso,
Não faço parte
Desta grande
Massa...

Finjo que durmo
Até dormir, ai, meu deus,
Finjo que sou
Até que me torno:
Assim é que a roda
Gira.

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