Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 12 de outubro de 2014

Que isto
Fique só
Entre nós:
São nove e vinte
Da manhã de um
Sábado (domingo?)

Chuvoso, muito chuvoso,
E aqui já estou eu
Com frio nos meus pés
Sem meias, fumando,
Fumando, me entorpecendo
De fumaças diabólicas e café,
Escondido atrás das cortinas
Da literatura.

Sopra um vento pela janela aberta...
Não importa a umidade,
Não importa que a chuva
Respingue um pouco aqui
Dentro. Que isto fique entre nós:
Há vários dias não varro a casa,
Não sei o motivo. Algumas garrafas
De vinho se perderam, vazias, por aqui...

Meu peito tem pesado muito
(Ainda que eu não fale)
Por causa de todo este lixo
Que foi pra baixo de móveis
Estreitos e eu não alcanço...
São nove e vinte da manhã...
Tanto faz o nome do dia.

Eu não sei
Se acordei cedo
Ou não dormi, nem se sonhei
A noite toda ou andei acordado,
Mas, ah, meu coração, disto
Tenho certeza: chove muito
No mundo, eu estou atrás
Das cortinas da literatura

- Nada me protege.

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