Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

I

A vida
É boa:

Não sabe
A doçura do mel
Quem nunca
O levou à boca

(Não pela falta
Do mel, mas pela
Teimosia de cerrar,
Sempre, burramente,
Os lábios).


II

Amados,

Despir do corpo
O medo é uma libertação:
Roupa quase invisível
Que praticamente todos nós
Vestimos, roupa quase invisível
Que pesa como um planeta
De chumbo sobre os ombros,
Casaco, calça, luvas e sandálias
Do desconforto - hoje eu vou
Nu à chuva
Que há...

Mais tarde, quando passarem
Todas as horas que passam sem motivo,
Eu, ainda nu, perdido entre grama e sol,
Languidamente feliz, deixarei, sem espasmos,
Que ali mesmo o meu corpo seque ao vento
Muito naturalmente.


III

Quem não tem fome
Não lembra da comida.
Apenas o que nos falta
Nos faz doer:

É ser feliz de fato
Não pensar em ser feliz...

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