Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Para que serviu,
Boabdil, todo o teu esforço?
Suspiraste e depois choraste,
Mas o que dói é que já sabias
Que irias suspirar e depois chorar.
Isto tudo é um absurdo, meu amigo...

Antes tivesses deixado
Que teu pai infiel amasse Isabelle,
Antes não tivesses tentado ser líder
De homens, antes não tivesses,
Escondido, fugido de Alhambra
Com teu irmão não menos desgraçado
Do que tu.

Boabdil, antes tivesses esquecido
Que eras príncipe! Poderias ter
Abandonado a tudo, fugido não
De Alhambra, mas de toda a vida,
Brandido a lâmina não contra a carne
Cristã, mas contra a tua própria.
Isto tudo é um absurdo, meu amigo...

Percebes? Sabias! Sabias muito tempo
Antes, como todo homem minimamente sagaz
Sabe: irias suspirar e, depois, chorar, pois
Que o suspiro e o choro são o destino
De toda a raça. Antes tivesses abandonado
A tudo, ido para as montanhas, virado
Um pastor breve de carneiros serenos...

Que digo? É um absurdo tudo isto!
Ainda assim chorarias e suspirarias:
Qual a diferença entre perder Granada
E um carneiro tresmalhado nas encostas?
O que dói menos? Serias o mesmo infante
Desafortunado, uma vez que ninguém foge
Das lágrimas que os deuses lhe reservam
Desde há muito na ampola do tempo.

Nunca te contentarias, príncipe amado,
Amigo meu, com uma choupana e um forno,
Com pão sovado por mãos simples da tua esposa
Simples, precisavas perder, precisavas suspirar,
Precisavas chorar: não um carneiro, porém um reino...

Nenhum comentário:

Postar um comentário