Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Os últimos jasmins vivos
Já no começo do outono
Sabem que não tem muito
Tempo adiante. Sabem:
Ainda assim, gozam. Não
Reclamam o fim do calor
Que lhes sustentava os corpos,
Não agonizam o momento seguinte,
O futuro tem algo de incerto
- Eis aqui a beleza do futuro!
Gozam! Gozam tanto e tão profundo,
Tanto a morte que virá quanto a vida
Que vai, gozam tanto e tão profundo
Que se desfazem todos em cheiros
Obscenamente doces, cheiros
Que envenenam os caminhos,
E quem passa
Sequer pensa...

Gozam tanto e tão profundo
Que me contagiam com seus exemplos:
Já no começo do outono fenecem,
Mas se deitam ao chão de gramas verdes
Com leveza tamanha
Que até diante dos meus olhos
A morte perde a importância.
Obrigado por este ensinamento:
Morrer em paz a cada segundo,
Mas exalar beleza como quem suspira
Ou se espreguiça ou faz algo profundamente
Natural... Os últimos jasmins vivos
No começo do outono são saudosos,
É claro, do mormaço estupendo e forte
Do verão que os pariu: não reclamam, gozam.

Eis eu como os jasmins vivos,
A saudade que sinto não é dor:
É uma oração silenciosa e grata
- Embeleza a minha vida como um campo
Coberto de pétalas brancas.

2 comentários:

  1. Que bom poder apreciar a efemeridade da vida nestes versos. Belo poema!

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