Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

I

Das inúmeras vezes
Que morri, algumas
Foram no meio do deserto.
Todas as vezes que nasci,
Nasci no meio do deserto:
Voltar ao lar é uma questão
De opção na hora da morte.

Já morri engasgado,
Já morri queimado e afogado,
Já me condenaram injustamente
À forca em outra vida, mas também,
Dentre estas inúmeras possibilidades
De fraquezas do ser, já errei confessamente,
Não sem ter sofrido, na hora ou depois, mágoa
E arrependimento. Deus sabe o que faz: só ele e eu
Sabemos o que aprendi com meus erros.

Abram os olhos, meus irmãos, eu imploro no final deste poema:
A vida, apesar de individualmente efêmera, é infinita no coletivo.
Das inúmeras vezes que morri, renasci todas elas. Deus sabe
O que faz.

II

Em outra
Vida fui
Um sufista:
Girei, girei, girei
Em torno de mim
Mesmo e dei de cara
Com uma luz impronunciável:
Eu.

Eis o nome do bem amado: Eu.
Eis o nome de deus, acima de tudo: Eu.
Eis o nome de tudo, acima e abaixo,
Mesmo a possibilidade de tudo: Eu.

Eu sou
O caminho
A verdade e a vida:
Oferto ao mundo minha alegria!

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