Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Há duas raças
Dentro de uma raça,
Há dois momentos:
Um que ergue prédios altos,
Um que olha flores e chora.

Há dias que percebo: o homem
É diferente do homem. Há muitos
Dentro de muitos. Há múltiplos
Dentro de múltiplos: talvez
O universo, a realidade, deus,
A essência, tudo isto seja apenas
Reflexos de reflexos dentro de reflexos,
Um túnel de espelhos sem fim,
Uma ilusão de ótica impossível.

Há diversidade em tudo, tudo é possível:
Quem percebeu os caminhos da natureza
De fato, quem disse que é como é por ser?
Há razão escondida na métrica da existência,
E a razão em si é um rio com muitos afluentes...

Há duas raças dentro de uma raça, homens, como tudo,
São diferentes dos homens. Cada ser é um ser, porque ser
É uma tarefa muito íntima, é um fardo extremamente sacro,
É um dever que não cabe ao outro cumprir: ser lapidado por mãos
Menos hábeis que a do mestre lapidador é a tristeza dos diamantes
Raros.

Cada pedra é única: há várias pedras na família das pedras.
Cada rio é único: há muitos rios na família dos rios.
Cada dia é único: há muitos dias que tenho percebido
A alma que está escondida acima da pele sensível
Do mundo. Aprendo com tudo. Sou grato.

Sapiência divina, organismo organizado não se sabe por qual força,
Raciocínio natural, o que nos trouxe à vida? Me permita
Por um segundo a ousadia, a rebeldia, o narcisismo de quebrar
Este espelho que reflete a luz que há e constrói, com esmero,
Tudo o que vemos com o corpo inteiro como um olho,
Tudo o que sentimos com a pele toda, a pele da vida,
Tudo o que farejamos com o instinto animalesco que
Nos habita como habita a natureza justa e impostora,
Me permita quebrar este espelho sagrado na hora sagrada
Da morte: o que busco é a paz inexplicável dos santos anônimos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário