Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eu tinha os remos
Nas mãos bem firmes, entretanto
Não era isso que me garantia
Controlar a barca:
Larguei os remos
Na água.

Deixo, aqui vai:
Deixo que o rio
Com seu curso lindo
Transporte a barca.
Aqui vai: não me importo.
Eis: não me importo, confio.

Na pior das hipóteses
Vou cair de uma cachoeira
Desde muito alto até um olho
D'água. Não me importo.
O que pode ser pior
Do que tentar remar
E ver que a barca
É incontrolável?

Lutar contra a correnteza suprema
Transforma a vida em um pesadelo,
Remarás até a exaustão de todo músculo,
Não sairás do lugar... Não, não quero isso
- Deito os remos n'água,
Deito meu corpo para trás,
Deito o meu ser: vou me perder
Olhando estrelas enquanto a barca
Desce o rio, vou cruzar as mãos
Atrás da cabeça e rir antes
De fechar os olhos: me interessa
Muito mais o sonho. Fecho os olhos.

A escuridão
Me conduz ao reflexo do espelho,
Eu mesmo sou negro por dentro
Quando calo... Lembro:

Eu tinha os remos
Nas mãos
Bem firmes, mas
Ficaram pra trás.
O curso do rio
É gentil, me deixo,
Me deixo embalar:

Durmo bem,

Nada importa.
Sou feliz de fato...

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