Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Escrever
Por escrever, amar
Por amar, flores
Que brotem por brotar
Apenas: não me vejam,
Não sou nada, meus versos
São tudo.

Se preocupa a rosa
Em saber se alguém a vê?
É bela, ainda assim.
Sem motivos à beleza,
Porém, senão ser bela
E exalar o que é.

Ah, me deixem ser como flores!
Me deixem ser como flores
Que mostram pétalas lindas:
Se as olhares de perto saberás
Dos muitos rasgos nas fibras
Comidas por insetos, das securas
Dos verdes que não podem ser
Analisadas senão de perto,
Das tristezas de um outono que virá
E de um inverno longo após.
Se olhares de perto, saberás dos muitos
Defeitos: são tantos, inúmeros, que são o mesmo
Que nenhum, a soma tão grande
Que é igual a zero. Ao conjunto de defeitos
Chamamos perfeição.

Ser por ser apenas. Ser com tamanha profundidade
Que não diria ser, mas estar. A possibilidade de tudo isto:
Eis aqui a verdadeira beleza e a verdadeira perfeição.

E lembremos a figura daquele monge do oriente distante,
E lembremos que ele passou toda uma vida procurando a flor
Sem imperfeições, e não esqueçamos que quando ele morria
Lentamente em meio a um jardim de cerejeiras percebeu:
São perfeitas todas elas.

Fareje as flores, não olhes, porque são enganos
Os olhos. Fareje as flores, não olhes por um segundo sequer:
Serás inteiro tomado pelo perfume que nunca percebeste e,
Por fim, perceberás.

Nenhum comentário:

Postar um comentário