Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A raça
Humana não
Sabe, supõe.
Saber é a nossa
Última qualidade,
Saber é o que fazemos
Menos. Não sabemos:
O tamanho das matas,
A origem dos ventos,
O nome da luz e as variações
Das cores das frutas entre o verde
E o maduro, incapazes de conhecer
O sacerdócio eterno das árvores,
A comunhão massiva das flores
Nos campos quando passa inverno
E vem primavera, enfim.

Supomos, apenas, que haja velocidade,
O movimento talvez seja uma ilusão,
Não sabemos nada sobre os destinos da alma,
Sobre o humor dos cães, sobre a solidão das baratas,
O nome do cheiro que fica dentro
Da geladeira quando estragam
Ovos que poderiam ter sido
Galinhas e galos, mas não
O foram e o porquê
Não sabemos.

De nós, de nós mesmos também sabemos pouco ou nada,
Também de nós não sabemos das coisas que poderiam ter
Sido, contudo não foram. Não sabemos, mas aqui há uma diferença:
Podemos saber. A pesquisa que se faz sobre si mesmo é
A mais importante pesquisa que faz
O homem sobre a realidade. Eis a ciência: saber a si
Mesmo.

Além, te despreocupa em tentar conhecer o incognoscível,
Nomear o inominável... Não há motivos pra esta disputa
Entre eu e eu. Quero mais é sentir: no sentimento repousa a ciência
Mais tenra, mais amável que pode haver.

De que adianta saber que o arco-íris se forma em função
Dos diamantes invisíveis dos céus fecundados pela luz rápida e alegre,
Se dentro de ti esta alegria não se propaga? Deixa a mesma luz te invadir,
Contempla primeiro o arco-íris dentro de ti: o saberás de fato, enfim.

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